Decolonialidade e aceleração. Perspectivismo e extinção. Desconstrução e especulação. Sentipensar e geontologia. Pensamento situado e suplemento. Dedeterminação e plasticidade. Povos espectrais e indecidibilidade. Luz negra e hipercaos. Dialetéia e xapiris. Intra-ação e Gaia. Por vezes em pares dissidentes, divergentes, dissonantes, a filosofia hoje no Sul Global reúne as demandas de uma história traçada por linhas elas mesmas conturbadas pela violência colonial excludente com a exigências de um mundo em desarranjo. Estar à altura dessa herança demanda uma reinvenção frequente, uma atenção ao urgente e uma ousadia de tentar escapar das armadilhas do convencional. Combinar ingredientes, fazer junções inauditas, recompor. Fazer emergir aproximações despercebidas.
O GT Ontologias Contemporâneas da Anpof surgiu há uma década para procurar dar voz a como o que está se esboçando nos últimos tempos ressoa pelas paragens da periferia do pensamento colonizante. Era para procurar fazer filosofia de um modo simultaneamente informado pelo contemporâneo e extermporâneo ao arbítrio do rítmo da metrópole. A tarefa é a de ressoar o que se passa na filosofia do século XXI de um modo que leve em conta as encruzilhadas, as aldeias, os quilombos e as paisagens dessas cercanias que são habitadas por maneiras de pensar, atitudes, gestos e insistências reconhecíveis. O GT se mostrou um espaço de ressonância e invenção. E assim tem sido: a reunião de vozes contrastantes procurando encontrar tonalidades para o que a filosofia de hoje aqui precisa. A ideia é tentar encontrar caras para a filosofia que vem, em ruptura com os cenários habituais mas inspiradas pelos movimentos às vezes díspares de luta e resistência oriundos do passado e focado nesse continente que esqueceu seu nome.
O GT tem sido um ponto de encontro de quem está pensando o contra-colonial, o antipatriarcal, o pensamento pós-desconstrução, as novas formas e possibilidades do pensamento herdeiro de Marx, as tradições afro-diaspóricas que pensam a violência total da escravização e do processo da colonização, o desafio de responder à irupção de Gaia, a urgência de entender os caminhos estereoscópicos e interseccionais do capital, o perspectivismo ameríndio, a natureza das transformações cosmopolíticas, as variedades de realismo que respondem à demanda de exorcizar as pressuposições da era do correlato, elaborações acerca dos espectros especialmente as que surgiram nas últimas décadas neste continente, contrastes entre cosmotécnicas, as formas recentes dos feminismos materiais em diálogo com as novas materialistas e com o pensamento que emerge da noção de história da carne elaborado por Hortense Spillers, as conexões entre filosofias do processo e modos de pensar do Sul Global, as possibilidades de um pensamento sem agência entre outros. O GT tem se mostrado assim o germe de uma (sub-)comunidade no país que ajuda a ativar o esforço de encorajar novas apostas em filosofia.
Conheça mais sobre o GT no site da Anpof.