Desde sua criação, em 2008, o GT Epistemologia Analítica visou trazer para a comunidade filosófica brasileira discussões da literatura epistemológica de vertente analítica produzida majoritariamente em língua inglesa e voltada para questões sobre a natureza, os limites e as fontes do conhecimento e da justificação.
Nesses últimos 16 anos pode-se dizer que a comunidade epistemológica brasileira cresceu e se diversificou. Hoje o GT é composto por integrantes de diversas regiões do país, com uma agenda de pesquisa muito mais ampla do que a da epistemologia tradicional e disposta a enfrentar os desafios de ampliar sua diversidade teórica, de gênero e étnico-racial.
As discussões sobre a natureza, os limites e as fontes do conhecimento e da justificação ainda estão presentes, principalmente devido ao seu caráter estruturante para a área. Por exemplo, é inegável que os mais de 60 anos de discussão sobre casos tipo-Gettier ainda influenciam a comunidade internacional e brasileira, que tem Cláudio de Almeida como seu maior representante. Mas, ao lado dessas questões tradicionais, a comunidade acompanhou o desenvolvimento da área, destacando a investigação de problemas filosóficos que versam sobre as condições sociais da produção do conhecimento. Se no cenário internacional tais questões se impõem desde a década de 80, no Brasil a comunidade epistemológica passou a enfrentá-los a partir de 2011, com a inauguração do grupo de pesquisa em Epistemologia Social, por Felipe de Matos Müller.
Esses problemas são oriundos da epistemologia feminista, da teoria crítica de herança marxista, do naturalismo epistemológico, e da sociologia do conhecimento; ou seja, possuem uma origem significativamente distinta do projeto tradicional da epistemologia analítica. Essas novas perspectivas deram origem à discussão de uma série de novas questões, muitas vezes conflitantes com os pressupostos tradicionais. Por exemplo: quem é o sujeito do conhecimento? Em que medida os conceitos epistemológicos analisados carregam preconceitos e ideologias de gênero, classe e/ou cultura? Qual o lugar para a análise de práticas de produção do conhecimento? Qual a relação entre o conhecimento e contextos político-sociais? Todas essas questões motivaram mudanças internas na disciplina, promovendo uma “socialização da epistemologia”, por assim dizer.
Importantes desdobramentos dessa nova perspectiva para área podem ser identificados em um projeto de pesquisa como o de Miranda Fricker em Injustiça Epistêmica: o poder e a ética do conhecimento. (que chegou ao Brasil em 2022, na tradução de Breno R. G. Santos). Fricker salienta que a epistemologia tradicional é idealizada por focar nos casos de conhecimento, e portanto cria a falsa impressão de que o conhecimento é a norma. Mas, se a ignorância é a norma, então um projeto de epistemologia social deveria tomá-la como ponto de partida, desidealizando a disciplina. Essa consideração metaepistemológica força uma investigação a partir de nossas práticas epistêmicas reais. No caso de Fricker, especificamente, trata-se de investigar como o preconceito identitário impede tanto trocas cognitivas quanto a possibilidade de grupos e indivíduos socialmente marginalizados contribuírem coletivamente para a produção do conhecimento (podendo redundar em situações como silenciamento ou mesmo o epistemicídio dessas comunidades). Este é um paradigma de Epistemologia Aplicada que pode ser desenvolvido em outras áreas que relacionam epistemologia e direito, educação, política ou mesmo a atividade científica.
Assim, a coordenação do GT deixa o convite para pesquisadores e pesquisadoras submeter trabalhos para participar das atividades do GT no XX Encontro da Anpof.
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Conheça mais sobre este GT acessando o site da Anpof.
A título de ilustração, estão listados abaixo alguns dos temas que a comunidade epistemológica vem trabalhado:
- Conceito e natureza do Conhecimento
- Ceticismo e limites do conhecimento
- Epistemologia aplicada
- Epistemologia coletiva
- Epistemologia da ciência
- Epistemologia das virtudes
- Epistemologia do desacordo
- Epistemologia(s) feminista(s)
- Epistemologia formal
- Epistemologia não-ideal
- Fontes do conhecimento
- Injustiças e opressões epistêmicas
- Metaepistemologia
- Natureza e estrutura da justificação
- Testemunho
- Valor do conhecimento