Conheça o GT Hans Jonas

O “Grupo de Pesquisa Hans Jonas” é um grupo interinstitucional de pesquisadores e pesquisadoras ligados a diversos programas de pós-graduação em Filosofia do Brasil, contando com inúmeros pesquisadores/as de diferentes instituições internacionais de pesquisa (Alemanha, Itália, Bélgica, França, Chile, África do Sul e Inglaterra). Criado em 2009, o GT Hans Jonas vem realizando pesquisas em torno do pensamento do filósofo alemão, seja em estudos de interpretação e difusão do pensamento do filósofo alemão, seja em diálogo crítico com outros pensadores/as da tradição filosófica.  

Desse trabalho, surgiram inúmeros artigos, livros, traduções e eventos que comprovam não só a atualidade do pensamento jonasiano, como o trabalho diligente e comprometido dos membros do GT Hans Jonas. Além disso, inúmeros trabalhos de conclusão de curso, iniciação científica, dissertações e teses comprovam o esforço teórico envolvido e o interesse que a obra de Jonas vem despertando no cenário filosófico do nosso país, o qual vive, como poucos, a pretensa aporia entre natureza e sociedade, desenvolvimento e preservação ambiental. A filosofia jonasiana tem se capitalizado nesse cenário, oferecendo possibilidades teóricas para diagnostica e interpretar os desafios nele contidos, levando em conta a tradição filosófica e os insights oferecidos pela obra de Hans Jonas, que se organiza em torno de temas como a gnose, o niilismo, a tecnologia e a crise dos valores éticos. 

Desde seus estudos sobre a gnose (cuja tese de doutorado foi orientada por Heidegger e defendida em 1928), Hans Jonas desenvolve seu pensamento de forma concisa e articulada com os problemas de seu tempo: uma crítica aos monismos materialista e idealistas que foram incapazes de compreender o fenômeno da vida (contra o que ele propõe uma biologia filosófica, desenvolvida em sua obra “The Phenomenon of Life”, de 1966); uma análise dos desafios impostos pela tecnologia em diferentes campos da vida humana contemporânea, especialmente na biotecnologia (como se lê em Técnica, Medicina e ética, publicado em 1985) e, finalmente, a elaboração de uma nova ética (conforme sua obra mais conhecida, Das Prinzip Verantwortung, de 1979). Assim, GNOSE, VIDA, TECNOLOGIA e RESPONSABILIDADE podem ser considerados os 4 principais eixos temáticos de trabalho dos membros do GT Hans Jonas. 

Articulando esses temas, encontramos um dos filósofos contemporâneos que mais levou a sério o problema ambiental, seja porque identificou um princípio dualista de negação do mundo como marca cultural do Ocidente (que teria começado nos movimentos gnósticos da Antiguidade e alcançado a filosofia existencialista), seja porque criticou as bases científicas da biologia moderna em sua interpretação do fenômeno da vida ou porque apontou as insuficiências das éticas tradicionais para dar conta dos desafios trazidos pelo avanço desenfreado da técnica, travestida em uma “vontade de ilimitado poder” (JONAS, 2013, p. 34), que contrapõe homem e natureza, com prejuízo de ambos. Jonas é um dos grandes críticos das utopias do progresso desenfreado e do desenvolvimento a todo custo porque vislumbrou a vulnerabilidade da natureza, a irreversibilidade e o caráter cumulativo dos danos a ela impetrados, o avanço dos novos poderes e, ao mesmo tempo, o despreparo ético do homem para o seu uso. Como todo poder é um modo de ação e de intervenção, ele não pode ser pensado sem que se leve em conta as responsabilidades tanto individuais quanto políticas dos homens atuais sobre as gerações futuras. A filosofia de Jonas, por isso, formula conceitos tão polêmicos quanto urgentes, que incluem a ideia de uma “heurística do temor” e de uma “futurologia comparativa” (JONAS, 2006, p. 70), capaz de reunir saberes os mais variados a fim de prever o mal futuro, baseada em uma “ciência factual dos efeitos distantes da ação técnica”. Se as utopias do progresso estão baseadas na formulação de um cenário positivo que anula a necessidade da própria ética, as informações que chegam das ciências naturais e dos especialistas da ecologia dão conta de que a nova ética precisa dos saberes previdentes, a fim de antever os perigos futuros “in dubio pro malo” é o mote central da ética jonasiana, que não prega a tecnofobia, mas a parcimônia, a modéstia e a precaução como valores centrais de nosso tempo, em vista do bem humano e de toda a rede da vida. No fim, Jonas propõe que a ética deve ser um “poder sobre o poder” (2013, p. 75) capaz de impor freios voluntários ao afã destrutivo patrocinado pela tecnologia que chegou ao campo brasileiro, patrocinado pelas corporações multinacionais a partir do final da década de 1980.

O pensamento jonasiano contribui para uma análise filosófica dos desafios impostos pela conjuntura de ameaças, catástrofes e extinção da vida, apelando para nossa responsabilidade pelo futuro global da vida sobre o planeta. Sua ética tem uma preocupação emergencial que recoloca, a seu modo próprio, o problema do ser no centro do pensamento filosófico: diante dos poderes ameaçadores da técnica e diante das evidências cotidianas, devemos nos perguntar de novo por que o ser (a vida) e não antes o nada? Ou seja: por que ainda queremos a manutenção do ser vivo no futuro? Se temos o poder de destruí-lo e a nós mesmos por que não o fazemos? O problema ambiental, assim, além de ser um problema ético, torna-se uma espécie de exercício heurístico que recoloca a Filosofia diante de seus temas mais célebres: o que é o ser, o que é o homem, o que devemos fazer, o que podemos esperar? A ética, além de encontrar base na ontologia e se estender até a bioética, é empurrada pela tecnologia para o campo das questões metafísicas

O GT Hans Jonas tem sido um lugar de articulação daqueles/as que pretendem estudar e debater esses problemas e interpretar a obra de Jonas à luz dos grandes problemas filosóficos que ela evoca, confrontando-a com seus interlocutores, assumindo suas propriedades para, então, também fazê-la relevante ao nosso tempo, aos desafios que são nossos, no Brasil de hoje, onde, mais do que nunca, a formulação do imperativo da responsabilidade parece indispensável: “aja de modo que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a Terra” (JONAS, 2006, p. 47). Acredita-se que a Filosofia não pode se calar diante da depredação dos recursos naturais, do empobrecimento geral da vida, da perda da biodiversidade promovida pelo “saque, a depauperação de espécies e a contaminação do planeta”, do “esgotamento das reservas naturais”, gerando “uma mudança insana no clima mundial causada pelo homem”, que vem “se desenvolvendo a toda velocidade”, ainda mais porque está somada a uma “dieta socioeconômica” baseada em hábitos de consumo insustentáveis (JONAS, 2013, p. 49). Poucas vezes na história os desafios teóricos e práticos dessa problemática foram mais evidentes. Sua urgência torna-se parte da crítica ao atual modelo econômico que vem sendo implantado à revelia pelo atual governo, patrocinado por alguns dos ideais mais danosos do ponto de vista ambiental.

Entre as iniciativas do GT Hans Jonas está a organização bianual do Colóquio Hans Jonas (em sua 12ª edição) e do Colóquio Luso-brasileiro de Ética e Filosofia Política (realizado em Portugal, já em sua 5ª edição). Além disso, a partir de 2019, quando comemorou 10 anos de sua fundação, o GT criou o Centro Hans Jonas Brasil (www.centrohansjonasbrasi.com.br), um centro de pesquisa, atualmente com sede na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, junto ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Escola de Educação e Humanidades. O Centro Hans Jonas Brasil visa aprofundar o estudo das obras de Hans Jonas, reunindo estudantes, professores/as e pesquisadores/as de filosofia, bioética e áreas afins, com o objetivo de favorecer sinergias e estabelecer parcerias capazes de manter vivo o legado jonasiano, dando continuidade aos desafios propostos por sua filosofia, levando em conta o contexto brasileiro. Atuando a partir dos quatro eixos temáticos que caracterizam as preocupações filosóficas de Hans jonas, o Centro Hans Jonas Brasil pretende contribuir com: a criação e manutenção de atividades ligadas à obra de Hans Jonas, com aulas, seminários e outras atividades acadêmicas realizadas com participação de professores/as brasileiros/as e estrangeiros/as; tradução e publicação da obra de Hans Jonas em língua portuguesa; disponibilização de textos, cartas e manuscritos originais para consulta de pesquisadores; publicação de obras de divulgação, interpretação e comentários da obra jonasiana; realização de eventos de debate e aprofundamento da filosofia jonasiana nos seus diferentes aspectos; articulação com instâncias de pesquisa que mantém interesses afins; apoio às atividades de pesquisa e intercâmbio nacional e internacional entre estudantes (mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos) e demais pesquisadores; promoção e circulação dos trabalhos, bem como a divulgação das atividades das instituições e pesquisadores e pesquisadoras envolvidas.

Conheça mais sobre o GT no site da Anpof.

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